quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Renovação


Crisálidas febris a pernoitar pela madrugada fria em inquietas fontes de prazer e agonia reverberam solenes, a canção de uma primavera que ainda dormita, ouvindo o canto sutil das invernadas.
A espera da terra no cio, o prazer da semente fecundada no leito verde das campinas, a canção que canta o vento, enquanto penteia a cabeleira das florestas em síncopes de cor e de perfume...
Ah!... É a sinfonia da vida que recomeça a cada instante, conquanto treva, no grito gesto de um silêncio repetido através do eco dolorido dos sinos pelos vales, onde permanecem, para sempre, os suspiros de uma primavera envolta em cânticos de paz e esplendor.
E eu, pássaro livre no deslumbramento desse espaço experimento a vibração do vôo plácido, o vôo azul, inesgotável como um arpejo na melodia infinita, no infinito dos meus sonhos, brilhando ao sol como ametista e diamante na concha de coral azul do firmamento em prece.
Te amo!

Scarolla Carolina

quarta-feira, 29 de agosto de 2012



À Luz da Prosperidade   
Sônia Carolina
Tela: Técnica Mista
Pessoas interessadas em adquirir telas, telefonar para :  83403835
scarola2012@gmail.com

segunda-feira, 27 de agosto de 2012



Capa do Livro "Perdoo-te"  Amália Domingo Y Soler
"Memórias de um espírito"  /  pelo Médium  Eldaldo Pagés
Tradução e Adaptação de Aristides Coelho Neto
Capa : Aquarela Sônia Carolina
Esta Aquarela pertence à Hylde Mello  /  Brasília DF
Scarolla Carolina

Sussuros na noite

       O grito azul de uma gaivota peregrina riscou o ar do horizonte cerúleo deixando no anil, um rastro de luz de sonho e ousadia.
E sobre um sólido mar de cristal inoxidável, deixou verter pérolas de inigualável frescor...      
       Ah! .... Então a luz, indecifrável enigma, rasgou as franjas de névoas inclementes em meio ao eclipse lunar que, transitando em meio aos soluços violáceos das estrelas murmurantes, cantou seu nome.
       Ah!... Essa presença- ausência de nós dois...
       Eu a sinto ainda neste desejo que me oprime...
       Eu a sinto viver ainda, em meio às visões que passam sussurrando, no delírio destes versos, no suspirar singular de um desejo suspenso no silêncio, nessa pausa de estridente luz que clama em meio à madrugada a voejar, singela...
        Sinto-a também em meio à profana melodia que, singrando esse mar de basalto azul povoado de estrelas e de sonhos, me traz de volta você...
       Você que me esqueceu...
       Você que ainda amo e faz parte de toda essa estória de profecias e de anjos, de dores e demônios, de sorrisos e lembranças...
       Cavalgo o silêncio, empunho a minha espada - Dom Quixote – ainda a hostilizar moinhos...
       Eu, na luta inglória e infernal à procura de você...
       Nesse mar de cristal inviolável, estremeço, mergulho e me confundo com a luz que desperta o brilho de prata das estrelas refletidas no azul turquesa, no azul zimbório de anil e ametista...
Adormeço nessa saudade.


Scarolla Carolina

O despertar da Bruxa



      O despertar faz forças interiores num momento indeterminado da vida, irrompe qual gêiser há muito controlado e  sufocado pela válvula que, premida pelo furacão interior, mais não faz que liberar de seu âmago, a força criativa de um mundo que, uma vez livre, dará origem a um novo macrocosmo interior, se dilatando pelos poros, na luz exuberante dos olhos da mente, a se exteriorizar nos elementos de cuja ajuda não prescinde: completa.
       O que é essa força, essa energia interior que surge quando menos esperamos, acordando sensações e conhecimentos esquecidos, sob cuja magia nos transforma de servos em senhores do próprio destino?
       Como manipular a energia, que vigorosa nos enlaça, e de nós emana em síncopes de poder e prazer, tornando-nos se podemos assim dizer, deuses, já que nos tornamos capazes de engendrar fluídos, e nos sentimos complementos dessa potência interna que rege os acertos e desacertos do homem, que conduz e dirige, aprisiona e liberta com seus tentáculos vigorosos de emoção ao abranger as energias virtuais da terra, nos liberando para as emanações suaves do Cosmo Superior?
       Como se conduzir, premidos pelas paixões, sentimentos ainda estáveis na mente do homem encarnado, nos sentindo capazes de reter e dispersar fluídos, elementos estes que, vindos das profundezas dos elementais da terra, quais raízes invioláveis e indivisíveis, se incorporam ao nosso ser revitalizando e reconstruindo junto às energias solares, perpassando pelo nosso organismo em síncopes de prazer, dimensionando o corpo e mente a outras esferas, nichos de esplêndida e catalisadora fonte de saber e emoções, capazes de auto-dimensionar o espírito para universos outros paralelos, ignoradas forças de alegria e conhecimento que emanam do Supremo Criador?
 Indevassáveis respostas fluem do nosso eu disperso pela subtileza da descoberta, no reencontro de si mesma...
       O despertar das descobertas ruge então qual tempestade que chega alagando, destruindo e criando vida, cobrindo de devastação e flores a personalidade virtualmente empolgada do ser que se descobre e se direciona para o bem ou para o mal, já que as energias explodem e o mago recém-descoberto pode delas fazer o uso que desejar...
         E acordam em frêmitos terríveis reminiscências de tempos outros, invioláveis sigilos.
        Mistérios profanos envolvidos em larga escala de danosas experiências, sucesso deplorado na ampulheta do tempo, a tumultuar a mente na difícil escolha do poder, e do querer.
        Até onde, liberdade ou prisão na mente estereotipada do mago?
       Até onde, o vôo contido enquanto o horizonte espera, onde o portal do tempo se descerra à sua espera que, enraizado qual árvore da vida, pássaro de asas feridas, contempla cada vez mais longe, o silêncio que rege a grande sinfonia do seu mundo interior?
        É preciso seguir apesar das amarras, das âncoras, a que preso se detém deixar seu destino caminhar rumo ao futuro direcionado e construído pelos cordéis sublimes do livre arbítrio.
       E temei oh! Mago, a lei do uso das faculdades recém-descobertas...
       Aplicai-as benevolentemente enquanto há luz, e enquanto pernoitam contigo gaviões e andorinhas na saudável complacência que o amor e o respeito impõem às criaturas em desenvolvimento.
       É chegado o difícil momento a escolha entre o Bem e o Mal.
Fogo, Água, Terra e Ar, explodem escancarando o indecifrável enigma dos hieróglifos tartamudeados do futuro.
       Acrisolado em longa e tediosa a teia de agonia, enquanto um riso frenético do amanhã o envolve em névoas de esperança e maldição, o mago acena para si mesmo enquanto corre o tempo na ampulheta sigilosa da vida.
              Desperta, tu que dormes, ó ave fogosa, saudosa dos paramos inigualáveis onde a natureza saúda o Que é O que Pode o que Ousa o que Sabe Querer.
Avante mago que as estrelas te esperam na sinfonia universal do firmamento, como a tônica inseparável na melodia igualável do universo.


Scarolla Carolina

Do Livro "Confidências no Espelho" a ser brevemente editado.


O Samovar de Prata

                            (para a escritora Sônia Carolina)
                            Josélia Costandrade
                  

Um samovar de prata... Se perdidas
no tempo incauto, surgem mil lembranças,
rasgando os véus, as portas escondidas,
escancarados, nas trilhas de andanças. 

Balalaicas tangidas pelo vento,
na densa noite, de céu camuflado,
visões tão claras vem – lhe ao pensamento,
como quadro por um mestre pintado.

Leve aroma de rosa e de verbena,
envolve o perpassar de cada cena,
num abraço do tempo não silente.

No samovar, sobre os carvões, a chama
o chá borbulha, o coração se inflama
com a emoção do passado presente.


Josélia Costandrade é Pintora, Escritora e Jornalista, Professora Aposentada da UNB

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Metamorfose

Livro de Poesias 2007  Brasília DF
Iluustrações de  Sônia Carolina
Capa de Ralfe Braga

Os livros estão à venda pelo site: soniacarolina7@yahoo.com.br  ou
scarola2012@gmail.com

Por telefone:83493835
Preço:  $35.00  (preço do livro mais despesas de envio)

Scarolla Carolina

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Falando de Amor

Livro de Poesias editado em  1990
Premio Master de Literatura pela Academia de Letras de Anápolis  GO
Ilustrações de Sônia Carolina
Capa de Falfe Braga

Esther, a cigana




Esther a Cigana
Técnica :óleo/ tela

 Esta tela pertence à Larissa S. Ribeiro

Curitiba  PR

O barqueiro galáctico


Inevitável

Pelos olhos,
irreprimível,
irrecuperável
vaza a vida,
enquanto
vaga o sonho
incessante
pela alma
irreversível
e delirante
escoando em poesia.
Desdobram-se os dias
calmos, submissos,
e as noites,
insones e inquietas.
Só você não passa,
não desgasta
como a vida.
É sangue,
é seiva,
é tormento,
é saudade!

Scarolla Carolina
Do Livro Falando de Amor de autoria de Sônia Carolina.(1990)
Falando de Amor, Prêmio Master de Literatura pela Academia de Letras de Anápolis, Goiás, em  Concurso efetuado  em âmbito  Nacional, considerado o melhor Livro de Poesias publicado de 1990- a 1992. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Delírios



Traço sonhos e gestos
pela languidez da noite indecisa,
enquanto meus beijos, mudos de espanto,
pousam sobre as pétalas das rosas desfolhadas,
retrato apagado de tudo que não foi...
Minha alma anda perdida pelos sonhos...
As mãos postas, aureoladas de encanto,
trêmulas e frias.
Palpitantes, os seios, arfando silenciosos
numa apoteótica melodia,
mergulham numa escala ascendente,
tangendo os sons da alma em doce encanto,
a sonhar estrelas
pela sensualidade  da noite entristecida...
Ensaio o vôo lúdico  por sobre as sombras indecisas,
enquanto descerro a luz, náufrago à deriva
nesse mar de brumas e silêncio,
absorto,
lúcido.
Viajo pelas franjas desse sonho, e
embora nunca saibas,
pelos caminhos do teu corpo, sigo.

Scarolla Carolina 


Gênese

(Ode ao Filósofo Spinoza)

Do caos emergem
as melífluas sensações de ordem...
Explode enfim, ardente chama,
indócil, trêmula, irmã gêmea do medo e
da esperança sem porvir...
E de repente, a luz que nasce,
se expande,  precipita,
e grita no silêncio da essência nascitura...
Quem és, substância,
um modo em extensão,
pelos arcanos indivisíveis
na trajetória incansável dos arquétipos?
Ação, reação, experiência caótica
no vazio da verticalidade
a buscar, em vão, a horizontalidade?
Deus?... Qual Deus dentre tantas
obscuras e puras sensações?
O que flui, antropomórfico
inacessível, necessário e eterno?
A própria existência que
flui e se dilui no êxtase e na razão.
Paixão que não se explica.
Desejo atroz corroendo  a alma.
Expectativa e frustração.
O Criador e a criação.
Fatalidade.
Imanência.

Scarolla Carolina    / Brasília DF

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Telas de Scarolla Carolina

Sôbre tua ausência



De repente,
O silêncio invade
A alma das coisas...
No céu, uma lua crescente
espia pela janela.
Indiscreta,
erótica,
curiosa, e
evasiva.
Na terra, a alma das flores
exala segredos
no festim da madrugada...
E tudo é luz
enquanto a noite
voa além de todos os horizontes
extraviados de outras esferas,
enquanto as folhas gemem
extasiadas de solidão.
Então a noite me leva
por sobre telhados,
por sob esquivas estrelas
suspensas  num céu
de arco íris e promessas...
Meus olhos te buscam...
Minha alma te chama
enquanto teu vulto, envolto em luz
inclina-se no silêncio,
percorrendo alvoradas de ausências,
se esgarçando na fluidez do sonho
enquanto é noite, e se faz dia...

Scarolla Carolina


Sôbre a saudade

Derramo meus versos
sensuais, na sua lembrança que,
triste e rude fere.
Maldita para sempre
a dor a arder como um vulcão.
Não poderia jamais
saciar o monstro desse sonho
que ressurge a cada vez que morre.
Insensatez. Lúdica forma      
De explicar. -- Ah! O inverno,
ergo a voz, rouca.
A minha alma te chama
quando envolta em seda sinto o vento
glacial das madrugadas a envolver-me
o corpo frio e perdida de amor  ainda clamo:
guia-me tua visão e aroma
misture-se à minha alma,
consola, no suave sabor
de um vinho amargo e rubro.
E eu cantava assim...
Eu tinha sonhos: todos mortos
envoltos na fatal melodia da desesperança.
E o ócio fatal que o meu amor devora
perfura-me a alma
no festim das rígidas agonias.
Aspiro essa volúpia
de tudo que espero e ainda quero
enquanto minha alma canta...
Maldito sonho, maldito para sempre
o sonhador volúvel,
a saudade inglória que
arde nos abismos
da pupila
no fascínio do nada...
A vertigem,
a insanidade.
Te verei um dia?
Eternidade.                 

Scarolla Carolina

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O enigma da criação


 
Quando se deseja cavalgar estrelas entre os pulsares das galáxias heteróclitas nas dimensões paralelas, nos deparamos com o inesperado e enclausurado enigma da criação.....
Sabedoria, a conquista de novos modelos, um  novo Merlin ascencionado, outros mergulhos galácticos despertando do reino vegetal para ampliar os paradigmas do Universo para então materializar-se como ser atuante, portador da luz, Lúcifer em meio ao caos...
Milhares de  luzes, de sonhos, pulsando homóclifos nas estrelas que hibernam, enquanto o sol, prodigioso ser, translúcido e paternal derrama bênçãos de luz por entre as dimensões onde a consciência desperta de outros reinos para semear o amor, o conhecimento e a evolução.
E enquanto se sucedem os sons harmônicos das esferas, deixemos eclodir, etéreas luminescências capazes de trazer ao fabuloso mundo das formas, as criações heterogêneas dos gênios tutelares em seu deslizar ameno através das dimensões holográficas que abrigam ardentes emanações sensuais e orgásticas da simbiose das estrelas...
A fusão da mente consciente com o inconsciente:
Eu e meu Pai somos um!
Grande nível de permeabilidade transcendendo os limites: é preciso fluir o fixo e fixar o fluído.
Do outro lado dos pulsares quânticos, novos universos, descortinando novos paradigmas e prodigiosos paradoxos, semeando o espaço de eloqüentes idéias, formas, corpúsculos de luz que serenos,  diante da singularidade em que se vêem envolvidos, deixam eclodir os espasmos multicores de vida em plangente melodia onde se destacam as notas plenas no ardor cósmico da empolgante criação da vida.
É a vida que recomeça a cada instante em que brilha a Luz!

Scarolla Carolina



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O pássaro preto

Calor causticante...
Á sombra de uma varando eu o vi...
Em movimentos desesperados, tentava, em vão, uma saída, e se debatia, rebelde e ansioso, entre as grades da gaiola, pequena cela para o seu tamanho....
Os olhinhos desesperados seguiam o sol que embalsamava de luz, o matagal próximo.
Ao pé da serra, a aragem que soprava, trazia consigo o frescor da plantação, das flores brejeiras, e o som estridente do canto da passarada livre!
E o pássaro preto ali, limitado e só, sem entender porque deveria estar ali, aprisionado, vendo bem perto, o lugar onde nasceu, o ninho que abrigava a companheira, sem ouvir a canção que canta o vento quando cruza o matagal florido, nem o som da cascata cristalina refrescando o ar...
E seu canto nostálgico e comovido, encheu o ar de notas tristes, na maviosa melodia, num piar tristonho a gemer de saudade, a chorar sobre lembranças e ansiedades.
Pobre pássaro, sem hoje, sem amanhã, cujo destino é destilar notas musicais, traduzindo melancolia através do seu canto em desatino, para deleite da mão assassina e indiferente, egoísta e sem Deus!


Scarolla Carolina
O Pacotão


       Ernestina tivera de um casamento feliz, a graça de três filhos que, enternecidamente a amavam, velando por ela com dedicação e carinho desde que enviuvara.
       Por isso, quando surgiram os primeiros sintomas da doença que breve a libertaria das mazelas do mundo físico, os filhos quiseram dar-lhe o melhor tratamento possível.
E para tanto, providenciaram rapidamente a viagem para a capital do estado de São Paulo onde procurariam o médico indicado por amigos, o melhor profissional da área para tratar daquela que, para eles, era mãe inigualável.
Assim, depois de muita burocracia e paciência, ei-los na Beneficência Portuguesa de São Paulo onde, já internada, dona Ernestina recebia o tratamento adequado ao mal que depressa a consumia.
       Mas apesar dos esforços, do carinho e medicamentos, em breves dias, eis que, invadindo a privacidade do quarto, a “Magra”, arrebata a doce senhora para outras plagas além dos horizontes do mundo, onde as divisas e o dinheiro já não têm nenhum valor.
       Vencendo a dor, logo se propuseram a providenciar o translado do corpo para Uberaba, cidade mineira onde nasceram, onde seriam prestadas à morta querida, as derradeiras homenagens, descansando, para sempre, ao lado do esposo inesquecível, no jazigo da família.
       No entanto, foram advertidos pelo médico do trabalho e do tempo que levariam para retirar do hospital e da cidade, o corpo da mãe.
Condoído pela dor dos rapazes, o profissional resolveu ajudá-los num plano audacioso para burlar a burocracia, e resolver, com presteza, o problema da família enlutada.
       Era apenas uma questão de tempo, pois logo o corpo se tornaria rígido, e embrulhado convenientemente, não chamaria a atenção, existindo apenas, a peculiaridade do tamanho que transformaria a velha, num enorme pacotão.
        A idéia, apesar de inesperada, foi imediatamente aceita trazendo alívio aos moços já tão acabrunhados pela situação de dor pela perda da mãe amada e estremecida.
       De posse do precioso fardo, empreenderam pela calada da noite, a longa jornada de volta ao lar.
       Madrugada alta, cansados ao extremo, quase vencidos pelo sono, resolveram descansar um pouco, fazendo um lanche rápido antes de continuar o percurso.
       E foi aí que o inusitado aconteceu...
O carro estacionado ao lado do restaurante exercia sobre as pessoas, enorme fascínio devido ao volumoso pacotão amarrado ao bagageiro, suscitando aos amigos do alheio, a cobiça e a curiosidade.
E quando refeitos da fadiga, os irmãos se dispuseram a prosseguir a jornada, quase desfaleceram de susto ao encontrar o automóvel aliviado da bagagem...
Horror!... Indignação!... Revolta!...
Mas, por mais que estes sentimentos os açoitassem, não puderam fazer sequer uma denúncia, pois, traria complicações ao Hospital, ao médico amigo que os ajudara, sendo que o translado fora feito à revelia da lei.
       Cabisbaixos, emudecidos, retornaram para sua cidade engolindo as lágrimas de dor, espanto e indignação.
        Passados tantos anos, ante a perplexidade do acontecido, ainda fico a imaginar, cá no silêncio do meu quarto, qual seria a expressão do ladrão infeliz, quando lá no meio do mato, naquela noite fria, abrindo o pacotão deu de cara com o defunto gelado e enrijecido.
Chego a ouvir seu grito de horror, e penso mesmo ouvir o barulho dos seus passos, na correria pelo mato afora, sem entender a razão do estranho embrulho e do seu fatídico conteúdo.


 Scarolla Carolina

Do Livro "Confidências no Espelho".  Livro de Contos e Crônicas de autoria de Sônia Carolina, a ser brevemente editado.






domingo, 5 de agosto de 2012


Resposta a uma carta

       Pede-me você amiga, uma opinião a respeito dos problemas ocasionados pelos acontecimentos doridos da existência humana, quais sejam, o ciúme, principalmente aquele que traz a separação nas famílias, a ingratidão, a inveja dinamitando nossas possibilidades em prol de pessoas inexpressivas e sem talento e, no entanto ávidas de poder se locupletando de vaidade enquanto pisam e maltratam, manipulam através do dinheiro e do poder, expulsando do caminho aquelas pessoas que representam perigo ao seu ego dominador.
       Aproveito então, a ocasião que ora se me apresenta para, analisando a situação exposta, conversar com você sobre os problemas que vivenciamos na pauta da nossa existência.
Sempre fui muito questionadora, demorando a aceitar a parte que me toca nos problemas de vida. Por isso sofri mais, porém em conseqüência, também aprendi mais. Não sou masoquista; sei que temos que lutar para melhorar nossa condição de vida como seres humanos, no entanto, depois de entender ou pelo menos procurar entender os ensinamentos dos Mestres,  compreendi que, o Deus Onisciente, o Deus Verdadeiro, cuja Centelha ou Mônada, habita cada um de nós, envia recursos para todos os reinos da vida pelas mãos luminosas do Cristo.
Quando estivermos prontos, nosso Mestre interno será por nós ouvido em forma de conscientização da vida espiritual e física e aí, entenderemos de forma intensa nos preceitos de Jesús, as Leis que regulam a vida, trazendo harmonia ao sentimento conturbado, nosso e de todos.
Compreenderemos o porquê de tudo que achamos que nos falta e que ainda sentimos necessidade, e teremos uma visão mais ampla daquilo que por agora consideramos injustiça.
Como diz “Miramez” (Iniciação – pelo espírito Lancelin, através do Médium João Nunes Maia): A dor nos faculta a energia Divina que esquecemos de acumular pelas virtudes).
Amiga, a dor é a dinamite que esmigalha as pedras para serem mais úteis á comunidade, é o recurso do progresso quando alguém esmorece no avançar.
Porém, acomodar-se  na dor e na dificuldade não é  próprio de um homem de fé. Sabemos da nossa necessidade de crescimento tanto moral quanto físico e temos a certeza de que o que opera em nós externamente é o reflexo daquilo que vivemos intimamente.   Não enganamos a lei. Todo dia plantamos o que o que vamos colher, então temos que ter o necessário cuidado para não sobrecarregarmos nosso fardo com compromissos que nos tirem a paz e, que comprometam a nossa liberdade.
O problema maior será sempre a sintonia.
Como esperar entendimento de alguém que nada tem para dar? 
O homem enxerga sempre através da visão interior e, com as cores que usa por dentro, julga todos os aspectos da vida à sua frente.  Se quisermos cooperar com o movimento do bem universal dirigido por Jesús, temos que começar a renovação dentro de nós, porque aí começamos realmente o movimento de libertação.
 O plantio não é obrigatório, porém a colheita é. E, sendo assim, sabemos que o plantio é sustentado pela liberdade, enquanto que a colheita é forjada pela justiça.
Compreender, entender que o outro é pobre de sentimentos, de evolução é dever de quem conhece o Cristo. O tempo se encarregará das pessoas que tentam nos prejudicar ou que já nos prejudicaram muito. Não podemos entrar na sintonia daqueles que por enquanto se entretêm no desajuste, senão seremos iguais, e assim atingidos inevitavelmente. 
Nunca dê atenção ao mal. Tudo que acontece em nossa vida tem uma finalidade.
Aquele que faz o mal padecerá desse mesmo mal e ainda sofrerá o inferno na consciência. Não podemos nos tornar instrumentos conscientes da justiça, pois ela cabe apenas a Deus.
Quem mais ganha com o amor é aquele que o sente.  Temos que entender que só podemos trabalhar por nós mesmos.
 Apesar do nosso amor, nossos filhos têm suas escolhas e não podemos decidir por eles. Têm eles seus reajustes e acertos com a Lei do Karma, a Lei de Ação e Reação, e não podemos mudar isso. Ninguém recebe o que não merece em qualquer lugar que estiver na Criação de Deus. Perdoar é entender que o outro é ignorante. Os homens, até certo ponto, fazem o que desejam; contudo a direção espiritual intervém quando a conveniência ditar porque, a Verdade é Deus e por sua Vontade não existe poder humano que não caia.
“A vida não dá nem empresta, não se comove nem se apiada. Tudo quanto ela faz é Retribuir e Transferir Tudo aquilo que nós lhe oferecemos.”
Albert Einstein
 Não existe outra solução senão aquela ensinada por Jesús: amarmos ao próximo como a nós mesmos porque o amor nivela as criaturas. 
Temos que construir o Céu na área da nossa consciência vivendo nela em paz, e doando-a aos outros, como regra de conduta. Só a nossa postura é capaz de modificar o outro.
Depositemos no Astral nossos desejos configurados na forma daquilo que necessitamos para nossa felicidade para que possamos evoluir e melhor servir á humanidade da qual fazemos parte.

O que é meu e o que mereço, virá a mim através da lei de atração.   Paz e Luz em sua vida.

 Scarolla Carolina

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Visão

 

Ah! Essa visão que passa sugerindo sonhos,
de uma mulher envolta em véus em transparentes brumas...
Que corre pelos bosques e campinas
incendiada de luz, a cada vez
que um raio de luar cobre seus flancos,
se eternizando pelas espáduas nuas...
Ah! Essa mulher cujo vestido branco e nacarado,
flutua ondeante por sobre lírios em vaporosa teia...
E ela agita a longa cabeleira e ri, como
num delicioso marulhar das ondas,
em praias brancas e perfumadas pela aurora...
E seu riso franco, riso de criança e de mulher,
percorre o horizonte azul das madrugadas
em busca das alvoradas, enquanto
deixa um rastro de luz turquesa, suspenso por sobre
as sombras clandestinas e delirantes,
em miragens de desejos profanos, envolventes...
E num alvoroço impiedoso
afastando as sombras, embriagada de lúcida certeza,
traz luz, som e cor, traz vida aos sonhos sem sentido.
Ah! Essa visão que passa deslizando em meus delírios,
inviolável, doce, dançando
em voluptuosa teia pelas campinas
no rosicler da aurora, traz nos olhos
dois sóis clareando os becos...
Resvala suspensa pelos vales lilases
aljofrados de mistérios,
envolta no doce perfume das quimeras,
rompendo espelhos e indo muito além
do sussurrar das fontes soluçantes...
Livre, ela agita a longa cabeleira
incendiada de estrelas,
cantando com a cor de toda a natureza, e
seu canto selvagem e lírico
invade o segredo das cascatas...
E seu riso é doce e cristalino,
como um marulhar das ondas em praias brancas,
perfumadas pelo alvor da aurora.

Scarolla Carolina

Poema publicado no volume 9 da Antologia Oficial do XVII Congresso Brasileiro de Poesia,
Proyecto Cultural Sur/Brasil  -  Bento Gonçalves RS
Projeto do Escritor Ademir Antonio Bacca